Camarões comunicam detecção local de poliomielite tipo 3 enquanto Rede de Laboratórios de África alarga actividade

Camarões comunicam detecção local de poliomielite tipo 3 enquanto Rede de Laboratórios de África alarga actividade

Yaounde- Pela primeira vez, uma variante circulante do poliovírus de tipo 3 (cVDPV3) foi totalmente sequenciada nos Camarões, o que constitui um marco importante nos esforços que têm sido empreendidos em África para detectar e responder mais rapidamente aos surtos de poliomielite.

Há três tipos de poliovírus: 1, 2 e 3. Embora o tipo 3 selvagem tenha sido declarado erradicado em 2019, a variante de tipo 3 ainda pode surgir quando a imunidade é baixa, tornando a detecção e a resposta rápidas essenciais para conter os surtos.

A maior capacidade de sequenciação por parte dos Camarões permite agora que o seu laboratório nacional para a poliomielite detecte e forneça resultados provisórios antes do rastreio de confirmação efectuado pelo laboratório de referência regional no Gana. Os resultados provisórios locais ajudam a acelerar a resposta aos surtos, reduzindo os atrasos.  

Neste contexto, apesar de ainda ter sido fornecida uma amostra ao Gana para assegurar a qualidade dos resultados laboratoriais, a detecção e a intervenção a nível nacional começaram com prontidão. Esta abordagem permitiu implementar uma resposta mais rápida, melhorou o envolvimento do país e demonstrou o impacto significativo da crescente rede africana de laboratórios de sequenciação nos esforços para erradicar a poliomielite.

O marco atingido pelos Camarões é uma das facetas da mudança que está actualmente a ocorrer em África, sob a direcção do programa laboratorial para a poliomielite do Escritório Regional da OMS para a África, liderado pelo Dr.  Kfutwah.  “A proliferação dos laboratórios de sequenciação da poliomielite na Região Africana é um objectivo fundamental que ajudará significativamente a intensificar os esforços contra os poliovírus e outras doenças evitáveis pela vacinação, representando um progresso na saúde pública da região.” – Dr. Kfutwah  

Há duas iniciativas emblemáticas que são fundamentais para liderar esta transformação:

1. Aumento do número de laboratórios de sequenciação no país

Ao proceder à sequenciação mais perto do local onde ocorrem os surtos, os países diminuem os atrasos e aumentam a capacidade de resposta rápida. Um exemplo claro vem da Nigéria: a recente criação de mais um laboratório de sequenciação, em Ibadã, levou a uma redução de 41% no tempo total de execução e comunicação da sequenciação da variante VP-1 para isolados em todo o país.

Antes de serem inauguradas as instalações laboratoriais de sequenciação em Ibadã, as amostras tinham de percorrer distâncias consideráveis, muitas vezes atravessando fronteiras internacionais. Com o aumento da capacidade local na Nigéria, os resultados são agora apresentados de forma mais rápida e consistente, permitindo que as equipas respondam de forma mais eficiente e com menos oportunidades de transmissão e propagação viral.  

2. Adopção de tecnologias de última geração (tecnologias de sequenciação por nanoporos)

A par do alargamento da rede de laboratórios especializados, a região tem igualmente adoptado novas ferramentas, mais rápidas e portáteis, para detectar os poliovírus. Uma dessas ferramentas é a plataforma MinION para nanoporos, um dispositivo pequeno e fácil de transportar, capaz de ler rapidamente o código genético dos vírus, mesmo fora dos grandes laboratórios.

Ao levar este tipo de tecnologia até junto dos locais onde os surtos podem ocorrer, as equipas de saúde ficam aptas a detectar e responder ao vírus muito mais rapidamente, o que ajuda a proteger mais crianças e a impedir a propagação da poliomielite.

Numa análise recente de dois isolados de VDPV3, utilizaram-se os métodos de sequenciação MinION e Sanger. O método MinION, quando utilizado perto de surtos, costuma fornecer resultados mais rápidos do que a sequenciação Sanger, o que pode ser importante para uma resposta atempada a surtos.

Este “tempo de resposta” pode ser decisivo para que um evento se mantenha contido e não se transforme num surto em grande escala.

A recente detecção nos Camarões demonstra que há hoje uma maior liderança nacional e resiliência na resposta à poliomielite em África, uma vez que os países geram agora os seus próprios dados e agem rapidamente, em vez de dependerem apenas de laboratórios estrangeiros.

A proliferação dos laboratórios e a utilização de ferramentas avançadas têm aumentado a rapidez e a eficácia com que os países detectam e respondem ao poliovírus. Em África, um continente vasto e interligado, estas mudanças irão demonstrar os progressos técnicos que têm sido alcançados no que toca à detecção de doenças e à prevenção de surtos.

Com cada dia que se poupa no trabalho de detecção, há mais crianças que ficam protegidas, e África aproxima-se cada vez mais do seu objectivo: tornar-se um continente sem poliomielite.

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